COMPONENTES TÓXICOS USADOS EM COSMÉTICOS.
Você já deve ter se deparado com essa dúvida: diante de tantos
cosméticos expostos nas gôndolas de lojas, drogarias e supermercados,
qual levar? E, mais do que isso, será que todos são seguros para o uso?
Tais questionamentos têm razão de ser: alguns produtos podem conter
ingredientes potencialmente perigosos para a saúde, provocando desde
irritações e alergias cutâneas até o desenvolvimento de doenças graves,
como o câncer. As dicas dos especialistas: prestar atenção no nome da
empresa fabricante e olhar bem os rótulos – para verificar as
substâncias e os registros obrigatórios que devem constar ali.
"É sempre relevante conhecer a idoneidade da empresa. Embora a escolha
de um cosmético, maquiagem ou coloração seja pessoal, ter ciência de
algumas informações básicas ajuda para uma decisão acertada", destaca a
farmacêutica Mika Yamaguchi.
"Os produtos no Brasil são
rigorosamente testados. No entanto, é certo que surgiram (nos últimos
tempos) muitas marcas novas e o consumidor deve ficar atento para
adquirir o que é de boa qualidade e confiável. No rótulo, devem constar
dados como CNPJ, endereço, nome do farmacêutico ou químico responsável,
endereço da empresa e telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor
(SAC). E, no caso de itens como os antiidade, classificados como grau
II, registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)", diz o
farmacêutico especialista em cosmetologia Maurício Pupo.
Promessa é dívida
Os produtos considerados como grau I, que apresentam benefícios como
hidratação, desodorização e limpeza, necessitam somente de uma
notificação na Anvisa; já os de grau II são avaliados por uma equipe
técnica encarregada de verificar se, de fato, têm as características
descritas na embalagem. Neste grupo, estão os antiidade, anti-celulite e
anti-queda de cabelo. "Com tal registro, a agência garante que a pessoa
receberá o que foi anunciado no invólucro", salienta Mika Yamaguchi.
O órgão já elaborou uma lista restritiva de substâncias nocivas que
devem ser banidas das formulações. "Acontece que muitos outros ativos
ainda são permitidos, em algum nível, pela Agência e por autoridades
sanitárias de alguns países", diz Maurício Pupo.
Veja, abaixo,
uma lista de elementos que, segundo os especialistas, podem trazer
riscos para as peles sensíveis ou perigos para a saúde:
Formol–
O composto químico, também conhecido como formaldeído, é o primeiro da
lista porque é um dos mais perigosos. Utilizado para alisamento e também
como conservante, é extremamente nocivo para a pele, o cabelo e o
organismo, causando até câncer. Estudo realizado pelo Departamento de
Medicina Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade de West
Virginia (EUA), e publicado no "Journal of Environmental and Public
Health" em maio de 2011, notou aumento de risco de desenvolvimento de
câncer de pulmão associado à exposição a alguns compostos, entre eles o
formol. "Por isso, seu emprego não é mais permitido em produtos
cosméticos no Brasil desde janeiro de 2012", salienta Maurício Pupo. Nos
rótulos, o formol pode estar apresentado com os seguintes nomes:
quatérnium-15, diazolidinil hora, imidazolidinil ureia e DMDM
hidantoína.
Parabenos– Trata-se de um
conservante encontrado em cremes corporais, géis de banho e
desodorantes, usado para evitar a contaminação por fungos e bactérias,
garantindo o uso do produto em longo prazo. "Já há estudos, no entanto,
mostrando que pode estar relacionado ao câncer", ressalta Mika
Yamaguchi. "Embora sejam estáveis e, em pequenas concentrações,
apresentem baixa toxicidade, existe uma crescente preocupação quanto à
possibilidade de alguns parabenos terem ação hormonal, principalmente a
estrogênica, de efeitos similares aos provocados pelos hormônios sexuais
femininos", completa Maurício Pupo, acrescentando que o dito-cujo é
aprovado pela Anvisa em limites muito restritos. Teste realizado
pelo Centro de Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Califórnia
(EUA), e publicado no "Toxicology and Applied Pharmacology" em março de
2007, mostrou que os parabenos são capazes de inibir a atividade
induzida pela testosterona, podendo influenciar diretamente o sistema
reprodutor humano. "De alguma maneira, é possível que interfiram com os
hormônios humanos. Como sabemos que muitos tipos de câncer são
decorrentes de mínimas alterações hormonais, temos que ficar atentos",
salienta Maurício Pupo. Os parabenos podem ser identificados, nas
formulações de cosméticos e desodorantes, com diversas nomenclaturas:
parabens, pethylparaben, pthylparaben, propylparaben e putylparaben.
Encontrou um destes termos? Melhor evitar.
Propilenoglicol–
Empregado como diluente de outras substâncias ou para conferir sensação
de hidratação, está em uma grande variedade de cosméticos. Mas, segundo
os especialistas, é provável que provoque distúrbios cutâneos como
alergias e irritações. Estudo realizado com 45.138 pacientes na
Universidade de Göttingen, na Alemanha, e publicado no periódico
"Contact Dermatitis" em novembro de 2005, denunciou seu potencial
sensibilizante, confirmado também pelo Departamento de Dermatologia do
Hospital Osaka Red Cross, no Japão, e publicado no "International
Journal of Dermatology" no mesmo ano. "É aprovado pela Anvisa sem limite
de concentração, mas vetado em cosméticos orgânicos",diz Maurício Pupo.
Em tempo, cosméticos orgânicos são aqueles que não apresentam
substâncias químicas derivadas de petroquímicos ou sintéticos, que
utilizam ativos isentos de agrotóxicos e extraídos de forma mais
natural. Para saber se o produto cosmético contém propilenoglicol na
composição, verifique o termo propylene plycol na embalagem.
Amarelo tartazina–
Corante, oferece grande risco de alergia. "Seria interessante utilizar
produtos sem corantes", sustenta Mika Yamaguchi, acrescentando que, no
setor alimentício, quase a totalidade dos itens vem com corantes na
composição. "Como são a principal causa de alergia em cosméticos, a
maioria das empresas já os eliminou das formulações", diz Maurício Pupo.
Nas embalagens, aparecem com a nomenclatura CI – Color Index, com um
código que representa a cor.
Etoxilado– É um
emulsificante – encontrado em xampus, por exemplo – originário de um
processo químico chamado etoxilação. Prejudica a defesa natural da pele,
deixando-a mais vulnerável à entrada de microorganismos e à
desidratação. "Por isso, é interessante utilizar produtos livres de
etoxilados, com emulsificantes de alta afinidade com a cútis, como os
fosfolipídeos", recomenda Mika Yamaguchi. Importante: a Anvisa não
controla este tipo de ingrediente. "Os etoxilados podem estar
contaminados com um agente cancerígeno chamado 1,4 dioxano. Por isso, é
essencial que se utilize etoxilados livres de 1,4 dioxano. Vale
ressaltar, ainda, que existe o risco ambiental, pois o processo de
etoxilação é danoso ao meio", finaliza Maurício Pupo. Na embalagem, o
nome que aparece é este mesmo, etoxilado.
Filtros solares químicos–
Tais aditivos, aprovados pela Anvisa e protetores dos raios UVA e UVB,
nas peles muito sensíveis ou infantis podem causar irritação quando
presentes em altas concentrações. Por isso, é recomendável que pessoas
nessas condições prefiram protetores solares com filtros físicos como
dióxido de titânio e óxido de zinco, estruturas inorgânicas que não
penetram na epiderme. "Nos filtros, componentes absorvedores de luz,
como benzofenona-3 e 4-metilbenzelideno cânfora, demonstraram ter a
capacidade de se acumular no corpo humano por até cinco dias. Então, são
elementos que devem ser evitados", diz Maurício Pupo, salientando que
este resultado apareceu em um estudo científico realizado no Instituto
de Avaliação de Riscos de Ciências da Universidade de Utrecht, na
Holanda, e publicado no "Toxicology and Applied Pharmacology", em
outubro de 2005. "Foi relatado que a exposição diária a tais filtros
resulta em efeitos estrogênicos no corpo humano." Em outras palavras, o
ativo pode interagir com receptores de estrógeno e atuar como se fosse
um hormônio feminino. "Mas é bom deixar claro que não são todos os
filtros químicos que fazem isso, somente os mais antigos. A nova geração
já apresenta maior segurança", explica o cosmetólogo Maurício Pupo.
Alguns nomes de filtros solares químicos: avobenzona,
octilmetoxicinamato, homosalate e bis-etilexiloxifenol metoxifenil
triacina.
Óleo mineral– Derivado do petróleo e
composto por uma mistura complexa de hidrocarbonetos, é aplicado na
indústria cosmética como emoliente, lubrificante e hidratante – e, por
isso, está presente em diversos cremes e loções. "Seu uso, no entanto,
tem sido relacionado a casos de desordens cutâneas", adverte Maurício
Pupo. Tanto é que o Departamento de Medicina Ocupacional do Hospital
Universitário de Trondheim, na Noruega, apontou que houve prevalência de
alterações como pele ressecada, dermatite, acne e eczema em indivíduos
que tinham contato direto com o componente. "Outro problema relatado em
relação ao óleo mineral é a contaminação de alguns produtos com o
1,4-dioxano. Este composto orgânico classificado como éter, segundo
pesquisas científicas como a publicada no "Regulatory Toxicology and
Pharmacology", em outubro de 2003, demonstra apresentar potencial
carcinogênico, penetração na pele e uma fraca atividade genotóxica, ou
seja, danos ao material genético", completa o cosmetólogo. Em outras
palavras, há suspeita de que provoca diversos tipos de câncer, como de
pulmão, esôfago, estômago, linfoma e leucemia. A Anvisa não controla o
uso do óleo mineral em cosméticos. Nos rótulos, procure por palavras
como paraffin oil e mineral oil.
Ftalatos– Eles
entram em esmaltes, perfumes, xampus e maquiagens como aditivos,
plastificantes ou agentes amaciadores. Mas é bom ficar alerta: estudo
realizado em 2009 em múltiplos institutos e publicado no Environmental
Health Perspectives em fevereiro de 2009 verificou que a exposição aos
ftalatos está associada à ocorrência de hipospádia, uma das
anormalidades urogenitais mais comuns em bebês do sexo masculino. "Outra
pesquisa, comandada em 2009 pelo Departamento de Saúde Ambiental da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Fudan, na China, provou
ligação entre a exposição fetal aos ftalatos, durante a gestação, e o
baixo peso no nascimento", destaca Maurício Pupo. Não há controle, por
parte da Anvisa, em relação ao emprego do ativo. "Nos frascos, não dá
para identificá-lo, pois os ftalatos são moléculas contaminantes de
determinadas matérias-primas", diz Maurício Pupo.
Aminas aromáticas–
Presentes em tinturas capilares, é possível que esses hidrocarbonetos
aumentem o risco de desenvolvimento de câncer, entre eles o de bexiga.
"Tal suspeita surgiu em estudo publicado no "Mutation Research" em
setembro de 2002 e evidenciada pelo Public Health Reports em
janeiro-fevereiro de 2005, nos Estados Unidos", revela Maurício Pupo,
acrecentando que a Anvisa estabelece limites para o uso do ativo em
cosméticos, que aparecem com este nome mesmo nos rótulos.
Nicotinato de metila–
É um ativador da circulação incluído em formulações anticelulite e
redutora de medidas. "Pode causar alergias graves, como dermatites de
contato, inclusive espalhadas pelo corpo, além de aumento de vasos
dilatados nas pernas, rinite alérgica e hiperalgesia, ou seja, inchaço
nas articulações com dores articulares – especialmente em profissionais
como massoterapeutas", destaca Sheila Gonçalves. Seu emprego é aprovado
pela Anvisa e o nome, nos rótulos, é o mesmo. "Em caso de alergia, o
consumidor deve procurar atendimento médico", diz Maurício Pupo.
Ureia
- Um dos hidratantes mais utilizados em cosméticos é a ureia, tanto
pela sua eficácia quanto pelo seu baixo preço. Como penetra
profundamente na pele e tem a capacidade de atravessar a placenta,
podendo chegar até o feto em formação e ocasionar graves consequências
ao bebê, traz uma advertência da Anvisa: todas as vezes que o componente
estiver presente em dosagens maiores que 3%, o rótulo alerta ‘Para uso
durante a gravidez, consulte um médico’. "O órgão também veta a
fabricação de cosméticos que contenham mais de 10% de ureia", salienta,
farmacêutica especialista em desenvolvimento de cosméticos Anelise H.
Leite Taleb. Na embalagem, o nome é o mesmo.
Rosana Faria de Freitas
Do UOL, em São Paulo 03/02/201309h00
Do UOL, em São Paulo 03/02/201309h00
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